Se apegue ao fantástico nos pequenos detalhes. Tá aí uma frase que me forcei a repetir infinitamente, até que se tornasse automática. Em minha pequenez, sempre vi nesse lema a melhor forma de tornar o mundo mais bonito, mais suportável, até mais mágico, se me permitem a ousadia.
Com o lançamento da 6ª edição do Jornal Literário Mural, essa máxima que rege a minha vida retornou aos meus pensamentos com toda a intensidade. Como dito no lançamento, cada retalho dessa colcha de detalhes fantásticos foi colocado de maneira a potencializar a sensação de conforto. Todo texto age como um ser vivo, que respira e mescla reflexos de quem escreveu e quem o lê. Sejam esses relances misturados felizes, tristes, nostálgicos, apaixonados ou dolorosos, ressaltam o fantástico em diferentes facetas da vida. Conforto é conforto. Mas o conforto pode ser um abraço, pode ser consolo, pode ser apenas o gesto de ver que alguém sente o mesmo que você.
Pessoalmente, acredito que existe muita beleza no mundo, e enxergá-la exige exercício. A Mural, especialmente nessa edição, ensina do engatinhar até ao galope no árduo processo de aprendizagem de procurar o belo. E, querido leitor, não me entenda mal, não sou o tipo de pessoa que considera belos apenas filhotinhos de cachorros ou flores perfumadas. Para mim, existe beleza no sentir e no sangrar das palavras espinhosas. Enquanto escritor e leitor, considero a dor um sinal de que existe vida, que existe história, existe algo mais belo do que isso? A História de Jorge Valério, Feliz Aniversário e Humano são perfeitos exemplos disso.
O jornal literário Mural é distribuído de forma gratuita em pontos específicos em Ponta Grossa, Telêmaco Borba e Curitiba, em espaços como universidades, livrarias e sebos, teatros e mais, que respiram arte, cultura e paixão. A palavra paixão nesse contexto é muito intencional. A origem do termo, que motiva tudo o que fazemos com brilho nos olhos, vem do latim passio, que pode ser interpretado como sofrimento. Sentir paixão é arder com a ausência de algo que se deseja. E, nesse caso anedótico, um abraço reconfortante é o bastante para acalmar a alma.
É difícil apontar pontos positivos ou negativos em algo que apresente tantos aspectos da experiência humana. Parafraseando partes do texto Jogar Videogame é Coisa de Mulherzinha, de Nicole Cristina Pokczyva, que ressalta como personagens femininas em jogos existem para apresentar uma narrativa e não ser um objeto de desejo, acredito que a Mural também não existe de maneira a ser desconstruída em prós e contras, e sim apenas para ser metabolizada e sentida.
Para além do conceito e dos textos, as ilustrações e diagramação também colaboram para a criação do ambiente de conforto. Grafite e palavras são uma junção poderosa para evocar aquilo que é mais cru em um ser humano, afinal muitas coisas começam com um rascunho em cor de chumbo num papel.
A edição divulgada no dia 15 de agosto teve seu lançamento potencializado pela junção de literatura e música. Como parte da programação da Invernada Cultural, da Lambrequim, a nova Mural foi acompanhada pelo show “O Amor Quase Sempre Dói”, de Chris Vianna e Henrique Medina. A dupla de Londrina brinca com poesia, voz e violão, e ainda utiliza o público como instrumento. Em primeira vista, pode parecer estranha a junção de um jornal literário que remete a conforto com um show de poesias feitas por um coração sangrando. No final, considero que a paixão é aquilo que une os dois elementos. Seja a paixão intensa e criadora que pinta as páginas da Mural, ou aquela paixão que a mera existência causa aflição das letras de Chris Vianna.
Com edição e supervisão de Jessica Allana Grossi.
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