A 8ª Bienal dos Quadrinhos de Curitiba trouxe quatro quadrinistas do terror para baterem um papo com o público sobre identidade e terror coletivo

Na edição de 2025, a homenageada pela 8ª Bienal de Quadrinhos de Curitiba foi Cida Godoy, a Mestra do terror que irá receber o prêmio Claudio Seto de Quadrinhos. A autora, uma das pioneiras nos quadrinhos de terror entre os anos de 1960 a 1980, trabalhava com elementos do folclore. Cida abriu as portas para outros quadrinistas brasileiros começarem a imaginar um Brasil mais assombrado. 

O evento aconteceu no sábado (06), às 11h30, no Palco Vão Livre localizado no Museu Oscar Niemeyer. Quatro quadrinistas, Amanda Miranda, Fábio Vermelho, Gabriel Pieri e Jack Azulita de terror puderam conversar sobre o futuro do terror. O espaço serviu também para falarem um pouco suas trajetórias e responderem às perguntas do mediador Thiago Carneiro. 

Em determinado momento da conversa, Thiago Carneiro perguntou aos quadrinistas como era possível fazer um terror coletivo. Um terror tão terrível que ultrapasse as barreiras individuais e deixe toda a sociedade aterrorizada. Será possível criar tal obra que deixe todos chocados?

Para Fábio Vermelho, criar um terror coletivo é ir ao individual ao mesmo tempo que ressalta o aspecto geral da sociedade. Já Gabriel Pieri lembrou de um clássico do cinema brasileiro de 1964 chamado À Meia-noite Levarei Sua Alma, do diretor José Mojica Marins. Se você não é tão fã de terror assim, pode não conhecer Mojica, mas com certeza conhece Zé do Caixão. “Não é atoa que esse personagem ficou marcado. Como a sociedade brasileira no geral tem pavor do diabo, de tudo que é diferente. Mojica utilizou elementos que causavam pânico e criou um terror coletivo.” explica Gabriel Pieri. 

À Meia-noite Levarei Sua Alma está entre os 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema. “É um escárnio em plena ditadura militar, temos nojo desse personagem o tempo todo. É interessante notar como a família tradicional brasileira, que naquele momento era conivente com diversas formas de violência, encarou o lançamento desse filme.” destaca Amanda Miranda. 

Até hoje, embora Mojica tenha se tornado um personagem de si mesmo, esse filme é capaz de evocar uma série de opiniões diversas. Além de um clássico da produção audiovisual, este filme é um marco do terror brasileiro. Além de destacar aspectos do futuro do terror, os quadrinistas também se voltaram ao passado, reafirmando suas raízes. “Como podemos definir o gênero de terror nos quadrinhos brasileiros?”, A pergunta levantou sérios pontos para o debate dos quadrinistas. 

Amanda Miranda ressalta que os quadrinistas brasileiros, no geral, podem ser explicados pela falta. “Apesar da falta de recursos, nós fazemos. Apesar de, temos produções de audiovisual, quadrinhos e livros. Para mim, são brasileiros aqueles quadrinhos que rejeitam a linguagem imperialista, são marginais e evitam repetir aqueles padrões de fora.” explica. Jack Azurita ressalta esse posicionamento, destacando que os brasileiros, de forma geral, foram colonizados culturalmente. “Quando pensamos em uma escola de ensino médio, pensamos naqueles colégios dos Estados Unidos porque já estamos tão acostumados com isso, mas é legal saber que existem vampiros no interior de Goiás. Devemos fazer histórias sobre o que conhecemos.” observa. 

Para Gabriel Pieri, o processo de criação de quadrinhos de terror brasileiros deve envolver o movimento antropofágico. “Devorar os estrangeiros e fazer algo nosso. Temos que poder olhar nossa realidade e poder fantasiar, não podemos ficar presos aos imaginários americanos e japoneses.” finaliza.