Foto: Larissa Hofbauer.

Arteterapia: uma forma de mudança através da arte

Estudos e especialistas observam as mudanças benéficas causadas na saúde mental

A arte muitas das vezes é retratada como sinônimo de sentimentos. Os artistas utilizam essa linguagem para expressar algo, seja uma angústia, uma felicidade ou até mesmo uma crítica social. De acordo com o artigo ‘Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do Psicólogo, da autora Alice Casanova dos Reis, a arteterapia é ”um método baseado no uso de várias formas de expressão artística com uma finalidade terapêutica”’ 

Hoje, esta modalidade de terapia engloba as mais diversas áreas artísticas como arte plástica, sonora, literária, dramática e corporal, desenho, dança, pintura, modelagem, música, poesia e dramatização.

Segundo a psicóloga Fernanda Bahena Soares, utilizar a arte de forma terapêutica vai além de produzir algo. É a utilização da arte de forma terapêutica, ou seja uma “atividade que você faz com a intenção de proporcionar um autoconhecimento, reflexão sobre situações, externalizar vivências, emoções e sentimentos”, ela ainda completa afirmando que quando a sua saúde mental está boa, ela pode influenciar na saúde física e na saúde biológica, por exemplo. “O ser humano é uma rede e está tudo interligado”, finaliza.  

A arteterapia pode acarretar em diversos benefícios, como conseguir acessar conteúdos do inconsciente, além de proporcionar a evolução, a individuação, de acordo com a vertente junguiana da psicologia, diferente da psicanálise de Freud que, segundo o próprio Freud, encara as expressões artísticas fruto de neuroses.

“Principalmente acessar o inconsciente nosso, ou seja, das nossas vivências particulares e experiências nossas mesmo. É trazer conteúdos do inconsciente para o consciente também”, finaliza a psicóloga.

Para fazer o uso dessa prática, além de ter um bom profissional capacitado, há outros aspectos que são observados pelos profissionais como, quando o paciente começa a ter muita dificuldade de externalizar o que aconteceu ou o que está acontecendo e não consegue organizar as coisas de uma forma saudável ou quando o profissional percebe o assunto que o paciente está falando possui uma carga afetiva muito forte, e talvez seja bom procurar outros meios dele falar sobre isso. “Quando percebo que determinado assunto é muito forte e a pessoa está tendo uma dificuldade muito grande de sair daquilo oralmente, eu em concordância com o paciente, pergunto se tem interesse em produzir um desenho, em sentar comigo e produzir alguma coisa”, comenta Fernanda.

Saúde mental no Brasil

O assunto saúde mental no Brasil ainda é muito delicado. De acordo com a psicóloga Fernanda, nós como sociedade não somos ensinados a dar a devida importância para os cuidados com a saúde mental. Outro ponto levantado é que a terapia ainda não é acessível para todos. “Nós não fomos ensinados e não é colocado com a devida importância a necessidade de cuidar da saúde mental”, finaliza. 

A utilização da tarifa social auxilia com que as pessoas consigam ter a possibilidade de cuidar da sua saúde mental, mesmo que a pessoa não tenha condições de arcar com o valor integral. Na cidade de Ponta Grossa, há três CAPS que fazem atendimento psicológico e psiquiátrico. A fila de espera de atendimento psicológico adulto no Sistema Único de Saúde – SUS da cidade está com uma pessoa. No Serviço de Atenção Especializada – SAE, a fila está em quatro pessoas, sendo a primeira solicitação datada de dezembro de 2023. Não há atendimento psicológico infantil na cidade. O CAPS trabalha com Musicoterapia aqui na cidade, segundo informações disponíveis no site do Ambulatório de Saúde Mental de Ponta Grossa.

Luta Antimanicomial no Brasil e a importância da arteterapia 

Em um passado recente no Brasil houve uma das maiores atrocidades já conhecidas. Estou falando do hospital Colônia de Barbacena, fundado em 1903, Minas Gerais. Com 80 anos de existência, dentro das alas do hospital psiquiátrico aconteceu descaso com os residentes onde, muitos que ali residiam não possuíam nenhum problema psicológico. Esse evento é conhecido como Holocausto Brasileiro, surgindo um livro e um documentário de mesmo nome lançados pela jornalista Daniela Arbex, que relata os acontecimentos dentro deste hospital. 

Os residentes do Hospital Colônia de Barbacena foram por muitos anos desumanizados, isolados, coagidos e muitas vezes torturados e lobotomizados. De acordo com o documentário Holocausto brasileiro, pessoas com deficiências sejam físicas ou cognitivas, homossexuais, mãe solteiras, eram vistos como diferentes e eram tratados como tal.

Outro documentário, Em nome da Razão, mostra as paredes desse mesmo hospital psiquiátrico com desenhos feitos pelos residentes. Outra figura marcante dessa horrível parte da história brasileira é a Sueli Aparecida Rezende que chegou ao hospital psiquiátrico em 1965, aos 10 anos de idade, ela foi gravada para esse mini documentário cantando uma música que ela mesma fez, que conta um pouco do tratamento, na sua visão, que recebia dentro do Hospital psiquiátrico de Barbacena.

A arteterapia surge no Brasil na primeira metade do século XX, em união com a psiquiatria. Os precursores da utilização da arte como instrumento para tratamento para a saúde mental foram Osório Cesar e Nise da Silveira. Por exemplo, Nise da Silveira defendia que a terapia junto com a arte não deveria ter como objetivo a distração, mas sim ajudar com a cura dos pacientes que utilizam desse meio.

Em 2001 ocorreu a reforma psiquiátrica e foi criada a lei antimanicomial, em que não se podia mais internar as pessoas com problemas mentais, e só ocorreria internamento caso o tratamento fora dos hospitais fosse ineficaz. Assim de forma gradual os hospitais psiquiátricos foram deixando de existir e em seu lugar foram surgindo os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), sendo dividido em três: CAPS, CAPS para crianças e jovens, e o CAPS para alcoólatras e pessoas dependentes químicas.

Vale ressaltar que os CAPS são integrados ao SUS. Para conseguir atendimento pelo CAPS, é necessário ter uma guia emitida nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA).