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A linha tênue entre beleza, estética, liberdade de expressão e vulgaridade

Coluna A moda e o mundo: Um olhar sobre influências cruzadas de Esthefani Carvalho


Segundo o dicionário, vulgar significa de qualidade inferior, baixo, chulo, grosseiro…

Vivemos em um mundo onde basta existir para que possamos ser julgados de todas as formas, e assim é o carnaval, visto de jeitos inimagináveis dentro e fora do país. Uma fusão que traz história em meio a brilho, cores, corpos e um gingado indescritível, que faz os olhos até desatentos dos lugares mais exclusos conhecerem um pouco da essência que domina quem somos lá fora tão quanto o futebol. Claro, um país miscigenado e cheio de arte vinda de todos os lugares, deveria ser conhecido por muito mais aspectos culturais além desses, principalmente no carnaval que é lido por pequenas particularidades em cada estado. Um bom exemplo é o frevo, de origem pernambucana, que surgiu no final do sec XIX e início do XX, tendo sua propriedade como ritmo de carnaval vindo da junção de maxixes, dobrados e marchinhas.

A arte de uma indumentária que vem sendo trabalhada a anos e mudando de tempos em tempos, hoje alcança um patamar que jamais seria imaginado assim que as primeiras marchinhas foram criadas, ou mesmo a primeira escola de samba desfilou. Rodeado de polêmicas em meio a arte e história, contando de forma maestral com plumas, paetês, muitas cores e samba no pé, assim foi se desenvolvendo o carnaval como é visto hoje, dentro e fora do nosso país. O olhar do brasileiro permeia o sorriso, aquele gingado e a total liberdade de expressão, seja nas ruas com suas músicas características de anos a fim ou mesmo os lançamentos atuais que trazem uma força mais contemporânea. Dentro dos sambódromos, onde o contar uma história de forma criativa, lúdica e iluminada faz morada, a arte é detalhada em carros alegóricos, empenho, amor e suor de quem trabalha meses por um único momento. Toda essa beleza se envolve com as minúcias de um país tropical cheio de charme e alegria que contagia aqueles que se permitem.

Um ato tipicamente brasileiro, moradores de um país tropical, é termos liberdade de mostrar a pele e aproveitar com as peças que são mais livres e expostas, o frescor ‘caliente’ que vem de nossas origens. Assim, no carnaval não seria diferente. Tops, shorts e bodys mais elaborados, com cores e muito brilho se tornam a maior alegoria feminina no momento em que o primeiro som começa a tocar em nossas mentes anunciando a época festiva. Para a mulher, apenas uma forma de ser feliz, liberta e aproveitar um momento em meio a tanta pressão cotidiana se expressando através de sua vestimenta. Para muitos homens e alguns religiosos ou estrangeiros, é o momento de banalizar a cultura e o corpo feminino, declarando guerra à unidade da mulher para falar livre e abertamente sobre os pensamentos que os levariam ao exato lugar de julgamento. 

Seria cômico se não fosse trágico, a forma como mulheres são banalizadas e taxadas de vulgares pela forma como expressam suas identidades ao se vestir. O machismo enraizado não apenas da nossa sociedade mas do mundo traz essa característica ao olhar da própria mulher, a mãe que cria um filho com os mesmos “valores”, trazendo defesas com propriedades cruéis, desinformadas e pesadas em um olhar preconceituoso ou palavras. O que difere a minha liberdade da que o outro possui? O carnaval é um campo aberto para refletirmos a leveza e sobriedade no olhar sobre o outro, livre da pressão do pré julgar e mais aberto a compreensão de que a arte é expressa de diversos jeitos, principalmente nos detalhes dos corpos de mulheres de infinitas formas. Pois entender que nada é apenas sobre mim e muito sobre o outro, abre portas para aceitarmos que cada um se expressa e se ama mediante o se sentir bem, é o primeiro passo para que existam menos ‘Marias’ e ‘Joãos’ pautadores de uma palavra chamada vulgaridade, cuja a definição eles apenas decidiram que fosse assim.

*Nomes citados não representam pessoas, mas uma simbologia a nichos.


Esthefani Carvalho, tem 35 anos, é técnica em publicidade, graduada em design de moda e está cursando pós em marketing de mídias sociais. Apaixonada por escrita e criação, sempre esteve envolvida com esse  meio, seja lendo ou produzindo conteúdo redigido ou visual. Ama se envolver em tudo o que agregue e traga espontaneidade a sua vida e seu currículo, estando ambientada em alguns projetos independentes junto a amigas ou parceiras de trabalho.