Durante a apresentação da peça na APADEVI, houve a mediação feita pela Casa Consultoria de forma presencial.

Acessibilidade para deficientes visuais ganha espaço na produção teatral

Dramaturgia inclusiva foi utilizada em Ponta Grossa pela primeira vez em 2024

Com informações da Assessoria

O teatro em Ponta Grossa vive um momento de bons frutos, com crescimento no número e na qualidade das produções em cena. E a acessibilidade para pessoas com deficiência (PCDs) tem recebido uma atenção especial dos produtores. A presença de intérpretes de Libras nas apresentações tem se tornado mais frequente e a audiodescrição começa também a ganhar espaço, entre outros recursos que garantem a inclusão de PCDs nas plateias.

Entre as novidades está a dramaturgia inclusiva, recurso utilizado de forma inédita em Ponta Grossa no espetáculo ‘Laços no Espelho’, dirigido por Eziquiel Ramos, da Diálogos Culturais, e que encerrou o ano com 19 apresentações e participação em 2 festivais de teatro. Juliana Partyka, da CASA Consultoria para Acessibilidade, é consultora de inclusão neste projeto. Ela explica que parte de elementos básicos de cenário e figurino podem ajudar na inclusão, que não depende necessariamente de uma narração da cena. “Numa audiodescrição tradicional há uma fala ‘o personagem foi para a direita do palco’, mas na dramaturgia inclusiva pode-se pensar em uma pulseira barulhenta ou um sapato com sola de madeira para que o público cego ou de baixa visão consiga identificar a movimentação pelo som”, explica.

O desafio de escrever um texto teatral a partir dos preceitos da dramaturgia inclusiva ficou a cargo do dramaturgo Gabriel Vernek. “Como dramaturgo neste processo de criação, meus ouvidos trabalharam muito mais do que minha voz ou do que os meus dedos”, conta ele. A peça ficcional explora a relação entre um pai idoso, com diversos lapsos de memória, e sua filha muito atarefada, com diversas cenas de afeto e outras cômicas, embaladas por muita música. O enredo surgiu a partir de histórias contadas pelos atores Álvaro Bueno e Vivian Bueno, pai e filha na ficção e na vida real. “Incorporar a acessibilidade para pessoas cegas ou com baixa visão dentro da poética da narrativa foi, de fato, como remontar minhas perspectivas de olhar em volta, ouvir o mundo, entendê-lo com outros sentidos”, comenta o dramaturgo.

A proposta de inserir a dramaturgia inclusiva nesta peça surgiu da produtora Rafaela Prestes, da Inspire Projetos Criativos. “Em 2023 realizamos o 1º Seminário de Acessibilidade Cultural em Ponta Grossa, com a participação de diversos profissionais da área. E foi a partir daí que veio a ideia de trabalharmos este recurso na peça ‘Laços no Espelho’, pensando a inclusão desde a concepção do espetáculo”, conta Rafaela. Segundo ela, a dramaturgia inclusiva começou a ganhar espaço no Brasil recentemente. “Buscamos sempre alinhar nossos projetos à inovação, observando o que se tem feito de novo fora daqui e trazendo novas formas de se produzir arte e cultura em Ponta Grossa”, destaca.

Entre as 19 apresentações da temporada, a peça passou pela Associação de Pais e Amigos do Deficiente Visual (APADEVI) e também pelo CRAS Jardim Paraíso, onde diversas pessoas com deficiência puderam assistir ao espetáculo. Para Trajano Ferreira, presidente da Associação Ponta-grossense de Emancipação das Pessoas com Deficiência (APEDEF), ‘Laços no Espelho’ é interessante porque permite que diferentes públicos se conectem com a história. “Muitos dos nossos residentes não têm muito contato com produções culturais, então foi muito especial essa apresentação, principalmente pela sensibilidade e pela acessibilidade que o espetáculo apresentou durante toda a sua duração”, relatou.

“Esta é uma produção muito especial, pensada em cada detalhe da relação dos atores com o cenário, os adereços, os figurinos, o espaço cênico e a própria plateia. Ao longo de 35 minutos conseguimos falar de intergeracionalidade, etarismo, laços familiares e memória, sempre com muito afeto em cada cena para que o público possa realmente se identificar nestes personagens. E o uso da dramaturgia inclusiva permeou todo o sucesso deste espetáculo, foi um grande acerto termos feito esta escolha”, destacou o diretor do espetáculo, Eziquiel Ramos.

A montagem e circulação da peça ‘Laços no Espelho’ foi viabilizada com incentivo da Lei Paulo Gustavo, com recursos do Ministério da Cultura – Governo Federal e gerido através da Secretaria Municipal de Cultura – Prefeitura de Ponta Grossa.