Foto: Arquivo Anderson Pedroso.

As primeiras festanças de Carnaval nos Campos Gerais

Especial: Nos preparativos do Carnaval

O Carnaval em Ponta Grossa data do início do século XX, como aborda o mini documentário Um novo carnaval premiado no Concurso Municipal de Vídeo Documentários 2018 pela Fundação Municipal de Cultura. Tudo começou através dos blocos, lá em 1940 e 1950. 

Já as escolas de samba, surgiram em Olarias, na região de Oficinas. Embaladas pelos habitantes da cidade, os desfiles aconteciam na década de 50 com o falecido Pai do Anderson Pedroso, o seu Ary Pedroso e com o tio Raul Caillot, como o Presidente da Escola de Samba Império do Samba Cidade de Olarias conta. Hoje as escolas estão espalhadas por toda a cidade.

O Anderson mesmo, cresceu apaixonado pelo carnaval. Hoje é um carnavalesco que faz de tudo um pouco. Samba enredo, fantasias, costura, capta recursos, participa de concursos, etc. “Em 2017, percebi que a tradição das escolas de samba de Olarias iria morrer. Naquele ano, em uma reunião bem informal entre amigos, fundamos a Império do Samba Cidade de Olarias”, explica. 

No começo, para participar do carnaval quando era jovem, Anderson precisou lutar. Ele nasceu em uma família em que todos participavam. A mãe era costureira e ela e a tia elaboraram as fantasias. Mas o pai, Ary, não queria que Anderson e a irmã participassem.

Os ensaios aconteciam na casa da família. Anderson ficava observando os preparativos e ensaios com muita curiosidade e orgulho. Quando ele tinha 10 anos, a Escola de Samba de São Paulo (como era chamada na época) se mudou para a vila 31 de Março. 

Anderson só voltou a ter contato com o carnaval após o falecimento do pai, quando pôde, finalmente, ir à sua primeira matinê no Clube Olinda. “Eu achei lindo, lindo, lindo! Na época, eu falei ‘Eu vou ser o Rei Momo’.” E não é que ele foi mesmo? Hoje, com mais de 32 anos de história de carnaval, Anderson Pedroso acumula diversos prêmios de Rei Momo e com a sua Escola. 

Seu primeiro prêmio como Rei Momo veio quando tinha 14 anos, em 1992. Na época, Anderson conta que era necessário ter um peso mínimo para ser o Rei Momo e que ele precisou engordar. “Eu tenho várias histórias marcantes com o Carnaval. Em 2006, fui Rei Momo da escola daqui que havia se mudado para Curitiba”. Naquele concurso, na verdade, era preciso responder perguntas sobre o Carnaval. Anderson, que havia feito a fantasia com as cores da escola, poucos dias antes, passou 45 minutos falando sobre o carnaval e suas origens. “A Maria, nunca vou esquecer dela, me disse: ‘Você sabia bem que você estava falando sobre o carnaval’ aí eu falei: ‘Sim, eu sou Rei Momo desde 1992. São 20 anos nessa história’, relembra. 

Para o carnavalesco, o carnaval é uma brincadeira, onde podemos ficar no meio do povo e dançar muito. “Eu amo o carnaval e este ano eu me despeço de Rei Momo e enquanto eu existir, enquanto eu puder lutar pelo carnaval e pela tradição da cultura popular, estarei lutando” reforça. Nos últimos anos, Anderson Pedroso foi coroado como Rei Momo em 2013, 2018, 2019, 2023, 2024 e agora em 2025, optou por não participar do concurso. Neste ano, o edital para a eleição da realeza do Carnaval previu representantes de escolas de samba e de blocos de carnaval. No ano passado, bastava querer se inscrever. “Nossa escola conta com três candidatas a Rainha e três a Rei Momo” explica Anderson que passou a coroa para o vencedor do concurso.  

Para a Rainha e o Rei Momo, está previsto uma premiação de R$ 1.900,00 (cada), para as duas Princesas, a premiação é de R$ 1.200,00 e R$ 1.000,00 respectivamente. Ser eleito é uma grande responsabilidade, você precisa acompanhar o Carnaval nos dias 28 de fevereiro a 05 de março de 2025 e ficar disponível até 2026, caso haja algum evento no calendário. 

Rainhas e Princesas de edições passadas

Ser uma rainha e uma princesa é uma grande responsabilidade. Primeiro, é realizado um concurso, não é possível se auto-proclamar nada. Os jurados então escolhem, com base em critérios técnicos, os cargos das candidatas. 

Aline de Cássia Oliveira foi escolhida a Segunda Princesa do Carnaval de 2024 e ela conta que sua história com o Carnaval começou ainda pequena, com 7 anos. “Eu amo muito o Carnaval e fiquei muito feliz de ter sido convidada para desfilar com uma das escolas neste ano” conta. Ela relembra que adorou o momento e gostou de participar. 

Outra participante do concurso, Aline Rafaely Alves Silva também começou cedo a curtir o carnaval. “Quando eu era pequena, brincava no clube 13 de Maio e na adolescência comecei a acompanhar a minha irmã, a rainha do carnaval de 2024 que ganhava seu primeiro reinado 12 anos atrás” comenta. 

Vencedores dos Concursos de 2025 

Neste ano, as escolas e blocos escolheram suas candidatas que se inscreveram para participar do concurso no dia 22 de fevereiro de 2025, às 19:00hr no Parque Ambiental. A homologação ainda não foi publicada no site da Secretaria Municipal de Cultura, mas quem estava lá pôde ver o concurso e as notas na íntegra. 

O concurso deste ano foi repleto de boas surpresas. Pela primeira vez, uma Rainha gorda, uma Princesa trans e um Rei Momo magro foram coroados. A princesa trans inclusive já foi Rainha em outros carnavais. 

Maria Beatriz Cordega foi surpreendida com o resultado dos jurados. “Eu não estava esperando porque eu não sou exatamente o padrão de Rainha do Carnaval, eu não sou o estereótipo”. Ela conta que ensaiou com sua amiga para o concurso, mas que o objetivo era na verdade divulgar o novo Bloco do Conselho de Cultura Pop da cidade de Ponta Grossa. 

“Esse ano foi um ano diferente, mas ainda tem muito caminho pela frente no quesito de aceitação por parte da cidade. Eu espero que nos próximos anos todos possam ver mais diversidade nesse concurso, e com mais naturalidade” explicou Mabi, como é conhecida no CCpop. 

Foto: Arquivo CCpop, 2025.

O CCpop lançou então neste ano o Bloco Level UP que reuniu fãs de anime, otakus, jogadores de boardgames, fãs de filmes e revistas em quadrinhos e nerds em geral. A Rainha conta que foi o dia que mais se divertiu no Carnaval. 

Conheça o bloco Menopausas

Suellen Galvão Jansen, arteterapeuta de 42 anos, é a responsável pelo Bloco da Menopausa que é composto por Annelise, Amanda, Camila, Débora, Lícia e Suellen. Para elas, participar nesse ano foi um divisor de águas, como conta Suellen. 

Foto: Arquivo de Suellen Galvão Jansen. 2025

“Ponta Grossa como o resto do país vive uma onda de conservadorismo e fundamentalismo religioso, por tanto olhar e ver que ainda assim foi o ano com mais blocos na rua, é a certeza de que resistimos! Tudo é político, nossos corpos de mulheres 40+ é político, porque por incrível que pareça ainda precisamos lutar pela existência desses corpos sem que eles precisem parecer mais jovens para serem aceitos.” destaca a responsável pelo bloco. 

O Bloco surgiu de uma brincadeira em 2024. “Estávamos reunidas entre amigas mães de adultos , e vendo eles se arrumarem pra brincar carnaval, dissemos que o bloco da menopausa ia ficar se refrescando na piscina. Depois esse mesmo grupo de mulheres 40+ se comprometeu com a ideia de que todo mês iríamos nos reunir para conversar, comemorar a vida e a maturidade” relembra Suellen. E Annelise, Amanda, Camila, Débora, Lícia e Suellen continuaram a festa. Passearam, viajaram, fizeram tatuagens juntas e comemoraram e celebraram a vida. 

Para Suellen, o Carnaval representa a cultura do povo Brasileiro. “Que apesar das lutas entende a importância de se comemorar a vida, de estar ocupando as ruas, de enaltecer a arte que se mistura com as crenças tanto de fé como ideológicas” reflete Suellen. Para ela, o Carnaval é um momento onde as máscaras se misturam simbolicamente e todo mundo pode ser quem quiser.