O hip-hop surgiu nos Estados Unidos na década de 70, diferente do funk, MPB, e outros gêneros musicais, o hip-hop não é um gênero musical, mas uma forma de expressão, é um movimento cultural baseado nas suas vivências, em específico as periféricas, pois é onde o hip-hop é presente. O hip-hop não é somente caracterizado pelas danças e músicas com um estilo específico, mas sim outras formas de expressão artísticas que se enquadram no hip-hop, como por exemplo, o grafite e o rap.
No Brasil, em 2023, o hip-hop passou a ser considerado patrimônio cultural brasileiro.
Para Stanley, rapper pontagrossense, o hip-hop está cada vez mais mostrando a sua força. “O hip-hop representa uma parcela da população preta e periférica, já que é um movimento originário da favela, que com o tempo ganhou força através da sua cultura. Hoje as letras de rap são temas de provas de universidades provando a força intelectual da nossa cultura, representa luta resistência e filosofia de vida de muito e muito jovens da periferia e fora dela”, comenta.
Para Gueg, também rapper de Ponta Grossa, a visão é semelhante “O hip-hop representa uma das expressões artísticas mais ricas culturalmente, pois possui em seus elementos, contribuições para essa riqueza e as suas ramificações.” Ele comenta que a diversidade artística envolve crianças, jovens e adultos com suas características próprias, o Dj e seus estilos diversos produções e performances contando com uma representatividade. Gueg fala sobre o DJ Erick Jay, que hoje é pentacampeão mundial. Ele retoma outras características como o grafite e seus estilos diferentes. “Tendo como representante os Gêmeos, reconhecidos internacionalmente, o Breaking que saiu das ruas e ganhou espaço nas olimpíadas, e o MC na luta constante de shows, produções e eventos informando através da música, e as batalhas de rimas que estão muito em evidência pelo Brasil todo.” relembra.
De acordo com a pesquisa de Marcos Alexandre Bazeia Fochi, no Brasil existiram três elementos que foram fundamentais para a disseminação no país, o rap, o break e o grafite, expressões artísticas que retratam as vivências da população periférica e também são feitos por ela.
Em 2023, o hip-hop passou a ser considerado patrimônio cultural brasileiro, e de acordo com Stanley, esse é um passo importante para o movimento. “É uma vitória, com certeza. Até demorou para ter esse reconhecimento. Acho que o hip-hop é o movimento que mais salva vidas dentro do Brasil e fora dele. É um trabalho feito a anos, sem remuneração, de forma coletiva e periférica. Não conheço algo que salva tantas vidas, igual o hip-hop salva”. Gueg ainda comenta que o movimento do hip-hop que está completando 50 anos, vem ganhando o mundo e levando a arte e os debates das juventudes periféricas. “O Movimento se organizou em todos os estados com o nome de “Construção Nacional da Cultura Hip-Hop” inclusive eu estou fazendo parte da construção no estado do Paraná e tenho informado os nossos a respeito do que está acontecendo culturalmente.” Ele fala que o hip-hop vem pra buscar reconhecimento e sempre está se empenhando em pensar em políticas públicas voltadas para o movimento e para os artistas. “Esse reconhecimento e valorização da Cultura Hip-Hop, no dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra, é um momento importantíssimo onde celebramos a cultura afro em busca de uma sociedade mais justa”. Ele ainda observa que o Edital de Prêmio Cultura Viva – Construção Nacional do Hip-Hop, que é o primeiro em âmbito nacional voltado para o Hip-hop, e que essas são conquistas históricas e a tarefa do movimento é dar seguimento e buscar novos espaços. “50 anos não são 50 dias, e é nossa tarefa fortalecer o movimento e brigar por mais políticas públicas voltadas para a cultura hip-hop”, finaliza.
O preconceito e a incoerência
Quando falamos de movimentos culturais periféricos, há preconceito advindo da classe hegemônica, a elite. De acordo com Gueg o preconceito sempre existiu, mas depois de muita informação em lugares como escolas, faculdades e as mídias falando sobre o hip-hop e a sua importância, muitas pessoas abriram as suas mentes, suas casa e empresas para que a cultura estivesse ocupando diversos lugares, como artista ou como empreendedor.
Segundo Stanley a classe média e alta sempre, de certa forma, se apropriou da arte periférica “A elite, ela é hipócrita, ao mesmo tempo em que ela critica, ela também usa. Como o hip-hop é algo tão grande e uma parcela da elite consome, o preconceito diminuiu. Antes a gente era “caçado”, por ser quem a gente é. Hoje o hip-hop é tão forte e com a internet, que é tudo no momento, como foto, vídeo, música, tudo na hora, então com certeza o preconceito diminuiu, mas agora ele é velado. Aqui na cidade, por exemplo, não existe um local onde se consuma rap, e ainda mais falando de onde a gente mora que é um lugar elitizado, é um lugar onde a maioria é branca e rica, ainda existe o preconceito velado, mas agora é bem menos. A gente cresceu em muitos aspectos”. Ele ainda completa que como as pessoas que tem dinheiro acabam industrializando o movimento do hip-hop, sejam com vestimenta, moda, música ou fotografia, faz com que o periférico que é a alma do movimento, não tenha acesso, as melhores câmeras, desfiles, boas roupas, assim muitos (com dinheiro) vão consumir o ‘produto’, pois muitas das vezes o dinheiro fala mais alto que a arte.
Da arte a vida
Tanto Stanley quanto Gueg são figuras marcantes do hip-hop pontagrossense, e definem o hip-hop com a expressão “Minha Vida”.
De acordo com Gueg o movimento é a arte, o resgate, a inserção cultural, o conhecimento para aprender e ensinar. “É vida é arte, é um sonho que pode mudar o próprio futuro. Ou poder mudar a vida de alguém, através da arte. Isso move as pessoas. Orientar onde e como buscar recursos, esse é o diferencial pra uma grande mudança. Informar através da música, da dança e da pintura”, complementa.
Na visão de Stanley o hip-hop também é conhecimento pessoal. “O hip-hop me ensinou sobre autoestima, amor próprio, conhecimento, música, resistência, persistência e que a mudança e o amanhã ainda são possíveis. O hip-hop é minha base”, completa.
Ele atuante há mais de 20 anos na cena local, relata que quando começou as coisas eram diferentes e que hoje sonhar em viver do hip-hop se tornou uma realidade palpável, já que o movimento se tornou popular. Ele ainda comenta como o hip-hop salvou a sua vida. “Quando conheci o rap foi em um momento de dificuldade. Como morador periférico, negro, deficiente e jovem, com família desestruturada e sem saber o que fazer, toda essa realidade que se ouve aconteceu comigo e se não fosse o rap com certeza eu não estaria aqui hoje”, finaliza Stanley.
O que Ponta Grossa tem a oferecer quando o assunto é hip-hop
Ponta Grossa apresenta algumas ações quando o assunto é hip-hop. Há as Batalhas de Rimas que acontecem semanalmente. A Batalha da Bom Jesus acontece todas as quintas-feiras às 19 horas, na praça Bom Jesus em Uvaranas, reunindo todo tipo de público, de crianças e jovens a adultos, tanto para participar ou para somente assistir. Após a sua criação, outras batalhas passaram a existir, como a Batalha da Arena, projeto semanal que acontece na região central de Ponta Grossa, atrás do Ginásio dos deficientes, aos sábados às 16 horas.
Outro projeto que acontece uma vez por mês é o ‘Hip Hop + Criatividade’, com programações e aberturas para outros gêneros do hip-hop. Nas seis edições do projeto, já participaram diversos MC ‘s que fizeram parte do Open Mic, pocket show ou show completo.
Ponta Grossa também oferece oficinas e mostras de dança Breaking, lançamentos de clipes, documentários e batalhas da criatividade. Todo esse movimento acontece no Centro de Criatividade no centro de Ponta Grossa na antiga Lira dos Campos.
E eventos anuais como Abril Pro Rap, Dia do Rap, Circuito Arte Rua e Semana do Hip-Hop.
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