Por Maria Fernanda de Lima
A violência sexual atinge mais mulheres do que homens. Isso é fato. Quando se trata de estupro, a maior parte da população até esquece que os homens também podem ser vítimas. Porém isso também acontece. E não só com meninos e adolescentes, mas também com homens adultos.
Os homens vítimas de estupro têm um perfil jovem. A grande maioria são heterossexuais, o que desmente o mito de que a violência ocorre por conta da sexualidade da vítima. Então, o que há em comum nestes atos? Podemos observar na maioria dos casos de estupros contra homens o uso da violência como uma forma de dominação. Ou seja, o objetivo dos agressores (estupradores) nem sempre é o de sanar seus desejos sexuais, mas sim de usar do ato como um instrumento de dominação, através do qual pode ferir, humilhar, enfraquecer, subjugar, e silenciar outro homem!
Esse tipo de abuso ocorre de forma muito comum em guerras – Há séculos!- mas é pouco comentado, justamente porque as vítimas não querem admitir o que aconteceu. O ato é validado como uma estratégia de tortura. Vários relatos de sobreviventes da guerra dos Balcãs revelaram, por exemplo, o drama de soldados feitos prisioneiros por tropas inimigas e que, em seguida, eram torturados, estuprados e submetidos a outros tipos de humilhações sexuais. A desculpa dos agressores era o longo período que estavam longe de casa sem relações sexuais. Mas o real propósito, na verdade, era o de enfraquecer os prisioneiros, dominá-los, amedrontá-los, para fazê-los se sentir menos homens e, consequentemente, menos soldados.
Aí chegamos ao ponto chave da questão. O estupro é sempre muito doloroso, não importa quem é a vítima, a dor independe do gênero ou da idade. Porém, em nossa cultura, o homem que sofre com isso, o peso é maior, por causa da visão que ele e a sociedade, machista, de modo geral, tem sobre o assunto. O seu orgulho masculino é ferido. Seu valor como homem é invalidado, suas relações sexuais são prejudicadas. Ele passa a questionar se o fato de ter sido estuprado agora o “torna gay” e também tem medo de denunciar o estupro e receber insultos homofóbicos: “bicha”, “viadinho”, “bonequinha”, são só alguns exemplos. Por fim, o homem se sente fraco porque, em sua visão, ele não poderia ter se deixado dominar por outro homem.
Na novela Pantanal (2022) da TV Globo, assistimos uma rara representação de um caso desses na teledramaturgia. O personagem Alcides (Juliano Cazarré), era um peão, hétero, envolvido num relacionamento amoroso com a esposa do fazendeiro Tenório (Murilo Benício), também hétero. Durante toda a trama, o relacionamento extraconjugal gerou tensão e conflitos entre os personagens, até que culminou na vingança de Tenório, que decidiu que uma das suas formas de se vingar do amante da ex-exposa, seria estuprando-o. Ficou muito claro que Tenório nunca teve durante a trama nenhuma atração por Alcides. Ele tinha duas mulheres, sentia atração somente por mulheres. Ele estuprou Alcides apenas para demonstrar seu poder, ódio, vingança e… dominação.
O personagem de Juliano Cazarré passou por todos os estágios de vítima que citamos: disse que não era mais homem, não quis contar para ninguém sobre o ocorrido, nem para sua companheira, até conseguir superar a questão.
Mas e na vida real? O silenciamento diante dessa questão serve de manutenção para estupradores e contribui para que muitas vítimas continuem sofrendo sem receber ajuda necessária. A maior forma de resistir à dominação que estes agressores impuseram às vítimas é, finalmente, quebrando o silêncio e expondo-os.
Maria Fernanda é jornalista formada pela UEPG e atua há três anos como Copywriter, já tendo passado por diversos segmentos do marketing. Cursando Licenciatura em Letras, ela é também voluntária em ocupações catequéticas, através das quais utiliza do espaço de ensino para perpetuar valores de ética, filosofia e moral. Para promoção de conhecimento, entreterimento e desenvolvimento pessoal, investe na escrita independente de reportagens e romances.
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