A prática de compartilhar a vida dos filhos nas redes sociais, conhecida como “sharenting”, tem se tornado cada vez mais comum. No entanto, os riscos associados a essa exposição muitas vezes passam despercebidos pelos pais. O termo, uma combinação de “share” (compartilhar) e “parenting” (parentalidade), abrange desde momentos familiares até registros mais íntimos, podendo impactar negativamente a autoimagem e o desenvolvimento das crianças.
Uma pesquisa sobre hábitos online de pais norte-americanos revelou que 77% deles praticam o sharenting, mas menos de 25% pedem permissão às crianças para compartilhar conteúdos que as envolvem. Essa falta de consciência sobre os potenciais danos pode ter consequências graves, como no caso do filho de Ana Hickmann (modelo e apresentadora) e Alexandre Correa, o menino de 10 anos, Alexandre Hickmann Correa (Alezinho) , onde a exposição é utilizada como álibi em uma disputa judicial.
Alexandre Correa (pai) chegou a gravar um vídeo onde coloca o menino para falar a favor dele sobre tudo o que aconteceu entre o empresário e a ex-mulher, no qual Alezinho diz: “não houve a agressão nenhuma eu mesmo comprovei que é mentira”
Após esse episódio, Ana Hickmann recorreu à justiça para impedir que o ex-marido use a imagem do filho do casal e o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu no fim de março (2024) que ambos os pais de Alezinho estão proibidos de usar sua imagem relacionada ao processo decorrente de violência doméstica movido pela apresentadora. Essa medida visa proteger a criança dos potenciais danos causados pela exposição midiática.
Além de ser vítima de Sharenting dos pais, Alezinho recebe atenção de alguns jornalistas e agentes de mídia que estão usando da situação para engajar o caso. Em dezembro de 2023, o jornalista Léo Dias afirmou que a escola do menino estava com a mensalidade atrasada há mais de 6 meses, por inadimplência do pai, Alexandre Correia. Não é preciso nem comentar o quanto essa exposição pode ter sido ou seria eventualmente negativa para Ale, tanto no ambiente escolar quanto no ambiente social ou familiar.
Além do caso de Alezinho, vale lembrar também que a exposição de crianças na mídia (mesmo quando não feita diretamente pelos pais) pode gerar outros tipos de perigos, como: atenção de pedófilos, conteúdo viral de meme, manipulação de imagem, cyberbullying e etc. São muitos os casos registrados na história da internet do Brasil em que crianças se tornaram memes e isso impactou significativamente em suas vidas ( “Hi Lorena”, “Já acabou Jéssica?”, “Geovanna, o forninho caiu”)
Vamos entender? Embora os pais possam optar por compartilhar suas vidas online, seus filhos não são figuras públicas por extensão. As crianças têm direito ao anonimato e à proteção de sua imagem. No caso de Alezinho, além da exposição vexatória, ele se encontra no centro de uma disputa que envolve dinheiro, negócios familiares, heranças empresariais e guarda compartilhada.
Infelizmente, a discussão sobre os limites dessa exposição, especialmente no caso de filhos de famosos, é frequentemente negligenciada.É essencial lembrar que as crianças não são propriedades dos pais e que a exposição delas na internet deve ser feita com responsabilidade, considerando sempre os direitos e o bem-estar dos menores. O sharenting pode ter consequências graves e duradouras, e é papel dos adultos saberem os riscos e protegerem a privacidade e dignidade de seus filhos.
Maria Fernanda é jornalista formada pela UEPG e atua há cinco anos como Copywriter, já tendo passado por diversos segmentos do marketing. Estagiária em Letras, ela é também catequista voluntária e palestrante, aprovada pela Lei Paulo Gustavo com projeto de combate a desinformação. Tem também um conto publicado na Amazon e investe tempo pessoal na escrita independente de reportagens.
Você pode gostar:
OPINIÃO: “Pedaço de Mim”, copiou Abertamente a História Real do Documentário “Tell Me Who I Am” e ninguém percebeu?
Menosprezo de cadáver: internet é terra sem lei e “Tio Paulo” é a prova
OPINIÃO: Zoom 100: Bucket List of the Dead: conteúdos de ficção violentos são na verdade uma fuga da vida real?