Por Maria Fernanda de Lima
Setembro Amarelo aciona um comprometimento em boa parte da população que, de repente, julga necessário falar sobre suicídio. Mas, e no resto do ano? Nos últimos anos, por que temos ignorado esse problema que se desenrola bem diante de nós? Na última década a indústria do K-pop tem sido marcada pelo ruído de dor e tragédia que é abafado: o suicídio frequente de idols. É claro que esse tipo de morte ocorre desde sempre em vários setores do entretenimento que não estão ligados ao K-pop e nem à Coréia. Mas observamos a recorrência dos casos entre as estrelas sul-coreanas podem indicar que os suicídios são resultado de violências presentes da indústria do K-pop.
A morte é o último sintoma da vítima, que por vezes já vem sofrendo a anos com uma série de violências. Nos últimos dez anos, o mundo do K-pop registrou suicídios de artistas extremamente populares no país, como:
- Jonghyun, de 27 anos, vocalista principal da banda Shinee, encontrado morto em 2017
- Suilli, de 25 anos, membro da banda f(x), morta em 2019
- Goo hara, de 28 anos, integrante do grupo kara, morta também em 2019
- Moobin, de 25 anos, membro do grupo Astro, morto em 2023. Apesar de não ter tido a causa da morte confirmada, a polícia sul-coreana indicou a hipótese de suicídio.
Aliás, isso é algo muito frequente: diversos outros artistas jovens foram encontrados mortos sem nenhuma causa aparente e nem a família e nem a empresa confirmaram o suícidio. Por que? Para não desmanchar a grande imagem de perfeição que o K-pop tanto preza e que pode esconder uma das raízes por trás de tantos suicídios.
As violências presentes na indústria do K-pop são muitas. Dietas extremas, cirurgias plásticas e a necessidade constante de manter uma imagem impecável. A exposição a comentários cruéis e críticas públicas nas redes sociais agravam ainda mais o estresse emocional e psicológico.
Além disso, casos de abuso verbal e emocional, assédio moral, assédio sexual e contratos abusivos têm sido registrados nesse meio, asfixiando artistas e propiciando essa situação “sem saída” para muitos. O ambiente competitivo e as condições de trabalho rigorosas podem criar uma cultura de abuso e exploração que afeta a saúde mental dos idols.
É claro que debater soluções para as mortes no K-pop não é fácil considerando que vivemos em países completamente diferentes, com diferenças culturais abissais e a oceanos de distância. Mas, os fãs das estrelas coreanas se preocupam com seus artistas e desejam que eles sejam felizes com seu trabalho. Devemos pressionar por mudanças e tirar lições sobre o que poderia ser feito. Apoio à saúde mental, com toda a certeza, é o que mais falta na indústria do kpop. Se para eles é um sinal de fraqueza demonstrar que precisa de ajuda, para nós, vemos que é isso que torna os artistas humanos. Não existe tal mundo perfeito como vemos nos shows, clipes e doramas. São pessoas reais com problemas reais. Merecem tratamento psicológico, aceitação do próprio corpo, além de diversidade na indústria, conscientização e regulação e fiscalização. Vamos pensar o Setembro Amarelo com mais atitude seja no mundo artístico ou cotidiano.
Maria Fernanda é jornalista formada pela UEPG e atua há três anos como Copywriter, já tendo passado por diversos segmentos do marketing. Cursando Licenciatura em Letras, ela é também voluntária em ocupações catequéticas, através das quais utiliza do espaço de ensino para perpetuar valores de ética, filosofia e moral. Para promoção de conhecimento, entreterimento e desenvolvimento pessoal, investe na escrita independente de reportagens e romances.
Você pode gostar:
OPINIÃO: “Pedaço de Mim”, copiou Abertamente a História Real do Documentário “Tell Me Who I Am” e ninguém percebeu?
Os Riscos do Sharenting: filho de Ana Hickmann e Alexandre Correia vira marionete online em processo judicial
Menosprezo de cadáver: internet é terra sem lei e “Tio Paulo” é a prova