Levantamento realizado pelo nosso portal indica que há pelo menos 159 escritores no Paraná em seis cidades com mais de 70 mil habitantes. Os dados foram coletados com as próprias Academias de Letras paranaenses com mais de 70 mil habitantes.
As produções dos escritores vão desde livros infantis, quadrinhos, poemas, trovas até livros de terror, caracterizando o Paraná como um local eclético onde todos os gêneros literários têm espaço.
Porém, a participação feminina ainda é pequena. São apenas 66 mulheres que estão escrevendo e pesquisando na área. Luísa Cristina Dos Santos Fontes, escritora, crítica literária e pesquisadora, residente da cidade de Ponta Grossa, e participante da Academia de Letras dos Campos Gerais (ALCG) e da Academia Feminina de Letras do Paraná, observa que, apesar de tudo, o cenário está se transformando.
Fontes realiza, há mais de 30 anos, pesquisas acadêmicas e publicações de livros sobre escritoras femininas paranaenses, principalmente do século XIX e século XX. Seu trabalho é um indicativo de uma mudança, à medida que ao se debruçar sobre as escritoras do passado, consegue formar comparações com o presente. Segundo Fontes, as paranaenses começaram a escrever relativamente cedo no Paraná em comparação com outros lugares do Brasil. “Já no século XIX temos autoras produzindo. É claro que esse material não era publicado ou levado a sério muitas vezes devido ao contexto da época. Os escritos ficavam guardados, escondidos, mostrados apenas à família, eram feitos muitas vezes em restos de papéis “, relata.
A pesquisadora afirma que este cenário não acontecia apenas no Paraná e sim no Brasil todo, mas que era especialmente mais difícil lutar pela visualização em cidades do interior do Paraná, como era Ponta Grossa no século XIX. “Escrever, para quem não mora nas capitais do Brasil, é diferente. Hoje em dia já vejo que há mais abertura.” Luísa Cristina Dos Santos Fontes cita como exemplo a FLIP deste ano que conta com mais escritoras do que escritores. “Vejo isso com muita felicidade porque é uma grande transformação. Entendo como um reconhecimento de público e mercado. As mulheres não estão só escrevendo, estão abrindo editoras e publicando livros de outras escritoras e essa é uma transformação radical que com certeza vai trazer modificações nos cânones brasileiros” complementa a pesquisadora.
Como está o mercado editorial no Paraná?
A produção no Paraná segue a todo vapor. A escritora, editora responsável pelos projetos gráficos da Lumus Editora e Orientadora de Atividades de Sala de Leitura, Andria Lhaisa, conta que, mesmo assim, o mercado não é fácil. Seu primeiro livro foi publicado em 2012, e desde então iniciou sua profissionalização no mercado literário paranaense. Ela participava da Academia de Letras de Foz do Iguaçu (ALEFI) e diz que esse diálogo com os escritores é extremamente importante, mas que foi retomado recentemente após a pandemia.
Sobre seu trabalho, Lhaisa conta que também não foi fácil. Formada em Letras e com um projeto sobre fanfics, ela começou a escrever, como forma de diversão ainda muito nova, mas demorou a lançar seu primeiro livro de fantasia. “Apesar de adorar fantasia, sempre fui pé no chão pensando que fantasia não era um caminho fácil, já que eu não via exemplos brasileiros. Comecei romances, mas eles nunca foram para frente. E quando eu resolvi pegar as ideias dos romances e jogar em um mundo de fantasia, deu certo. Não adianta negarmos algo que sabemos que é certo “, observa.
A academia de Foz, a qual Lhaisa era participante, está paralisada desde 2015. Algumas cidades, mesmo as com mais de 70 mil habitantes no Paraná, não apresentam uma academia própria e nem um grupo de escritores. É o caso da cidade de Castro, que fica próxima a Ponta Grossa e está localizada nos Campos Gerais. Os escritores de Castro que desejam participar de uma academia podem se associar à Academia dos Campos Gerais.
Mesmo com esse cenário, Luísa Cristina dos Santos Fontes é otimista. “Vejo com otimismo, trabalho há 30 anos na área, escrevendo e pesquisando, e o acesso está mais facilitado, as mulheres sempre tiveram produções arrojadas, mas agora, estão ainda mais arrojadas. Alguma coisa está se transformando.” Ela comenta que a escrita é permeada por questões sociais como por exemplo o papel da mulher na sociedade, mas hoje, as mulheres estão protagonizando papéis de relevância e importância.
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