Os livros e as histórias em quadrinhos direcionados ao público infantil são o primeiro contato de uma criança com a leitura. Por meio dos livros, a criança desenvolve a empatia pelo outro, exercita a imaginação e aprende a criar as suas próprias histórias. É através dos livros que ela também se sente representada e aprende o ponto de vista do outro.
Atualmente, no Brasil, existem 55,5% pretos e pardos no Brasil, segundo dados do IBGE. Embora os negros e pardos sejam a maioria no Brasil, não é o que percebemos nas livrarias. Embora os livros infantis escritos por autores negros tenham mais espaço nas livrarias, ainda não são difundidos como os dos escritores brancos.
A literatura negra infantil vem com o objetivo de destacar a autoestima das crianças negras que pode ser valorizada através do destaque a da ancestralidade. Mas não são só as crianças negras que se beneficiam com as leituras antirracistas, as crianças de outras etnias e brancas também aprendem a respeitar a cultura e a diversidade.
O Pedagogo, escritor e cineasta amador, Marco Aurélio Correa, morador do Rio de Janeiro, escreve livros infantis direcionados para as crianças negras e é professor da rede pública do Rio de Janeiro e Doutorando em educação na UERJ. Ele explicou para o Cripto Cultura porque é tão importante realizar esse tipo de leitura desde cedo. “São três pontos principais que fundamentam o conceito de literatura negra e consequentemente são ações antirracistas.”, segundo o doutorando, o primeiro se refere a autoria. “É importante que pessoas negras tenham a chance de serem autoras de suas próprias histórias, sejam de vida ou ficções literárias.”
Para as crianças negras, ele destaca que as narrativas e vivências dos personagens devem valorizar a sua subjetividade, sem ser romântico ou denunciativo em excesso. “O terceiro tem a ver com o público, não apenas no reconhecimento de uma criança negra em alguma personagem, mas também de crianças e famílias brancas que lidarão com o protagonismo de outras referências e questionarão o seu privilégio de serem os únicos protagonistas sempre.” observa Correa.
É importante relembrar que a representação nos livros infantis auxilia no processo de aceitação e participação do mundo. Todos nós, sejam brancos, negros, indígenas e amarelos, devemos ter representações na infância e infelizmente alguns grupos são mais representados do que outros.
“Ver o próprio reflexo positivamente é fundamental para qualquer autoestima. Centenas de anos pessoas negras no imaginário social, na literatura e nas demais mídias apenas foram representadas de maneira desumanas, caricatas e estereotipadas” lamenta. Porém, Correa observa uma mudança positiva no cenário atual. “Ter um reviravolta nessa representação não é apenas questionar o cânone, mas também afirmar que existe uma pluralidade de corpos, tons de pele e texturas de cabelos.” complementa.
A literatura infantil proporciona experiências afetivas que perduram por toda a vida. Mesmo aqueles que não se tornam leitores assíduos na vida adulta se recordam de livros que leram durante a infância, por isso a preocupação com a escolha correta dessa literatura tão importante ao desenvolvimento. O autor Proust afirma que não existe nada mais forte que as lembranças das leituras de infância (1991). Desta forma, sempre ler livros que reiteram a visão branca, fortalece um ciclo de manutenção de privilégios como pontua o Doutorando em Educação. “Como diz Cida Bento, chegou a hora de organizarmos um compromisso por nossa diversidade étnica e racial e partilhar os protagonismos”, afirma.
Outro problema pouco discutido é que toda a escolha de livros é ideológica, como bem relembra a pesquisadora Negrão em seu artigo Preconceitos e Discriminações Raciais em Livros Didáticos e Infanto-juvenis. Neste caso, a escolha por autores brancos e negros, principalmente no contexto escolar é puramente ideologica, mesmo que o professor não se atente a isso.
Um futuro antirracista na literatura
Amante das partilhas educativas, das escritas literárias e das tramas audiovisuais, Marco Aurélio Correa gosta de dizer que brinca de dar aula. Ele escreve livros e faz cinema. O autor do romance Câmera escura, do infantil Luiza e o som do tempo e dos contos de Necropoéticas, observa que os livros infantis são um dos artefatos educativos que melhor exercem a sociabilidade em uma comunidade. “Apesar do preço, custo e acesso desses materiais, que reflete o elitismo do mercado cultural no país, ainda acredito no seu poder social e cultural”.
Segundo o Doutorando em Educação, o adulto tem papel crucial na apresentação de obras de autores negros. “se é preciso uma aldeia toda para educar uma única criança, o livro infantil tem esse papel.”. A estética e as temáticas também são extremamente importântes no desenvolvimento da criança que entra em contato com essa literatura. “O livro infantil apresenta mundos novos para as crianças, como também faz o adulto recordar a infância da vida.” relembra Correa.
Dessa forma, os adultos e principalmente educadores devem ter cuidado na hora da escolha do livro. A literatura da educação nos diz que é necessário proporcionar protagonismo à criança, respeitando sua consciência e sua capacidade de escolha tendo em vista seus próprios interesses.
Representatividade e os livros de Marco Aurélio Correa
As crianças negras sentem falta de se sentirem representadas. Histórias que contêm personagens principais negras, resgatando a ancestralidade, fortalecem suas próprias percepções e as auxiliam a identificar situações de pertencimento.
Marco Aurélio Correa é escritor. Sua obra ‘Luiza e o som do tempo’ fala sobre a reconexão comunitária com a ancestralidade. Onde crianças e adultos, em relações familiares ou escolares, precisam escutar um ao outro para que a vida seja leve e boa para todos.
“A sinopse deixa um gostinho do que tem por vir nessa bela história”, observa Correa. Luiza e sua amiga Kissa estão muito empolgadas para o passeio para a Quinta da Boa Vista, porém, pela bagunça aprontada pelo quinto ano, o professor decide cancelar o passeio. Embalada pela melodia de sua querida avó, Luiza bola um plano para se reconectar com o passado e fazer com que as crianças se escutem e entendam como faziam os ancestrais. Você pode adquirir o livro de Marco Aurélio Correa clicando neste link ou com o próprio autor, que lhe mandará o exemplar com uma dedicatória. Você pode comprar o livro através do whatsapp 21985327133 ou pelo Instagram do autor neste link.
Adorável ler acerca de um Projeto assim levado a cabo em meu Estado. No cenário atual, atitudes assim são sempre as mais louváveis e merecem ser reconhecidas. É até democrático proporcionar todas as visões de mundo possíveis para o olhar das crianças.