A primeira edição da pesquisa realizada pela Nielsen BookData, busca mostrar o perfil das pessoas que consomem livros. Foram realizadas 16.000 entrevistas para esse estudo e foi constatado que 57% das mulheres são compradoras de livros enquanto apenas 43% dos homens compram livros.
De acordo com os resultados, no Brasil há mais mulheres compradoras de livros, das classes B e C das regiões sudeste e nordeste do país. Ainda de acordo com a pesquisa, 16% da população acima de 18 anos comprou ao menos um livro durante o ano de 2023, e 69% compraram de um a cinco livros neste mesmo período.
De acordo com Luísa Cristina dos Santos Fontes, professora aposentada da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) de Literatura Brasileira e Língua Portuguesa, escritora e Fundadora da Academia de Letras dos Campos Gerais – ALCG (Cadeira n. 5), integrante da Academia Feminina de Letras do Paraná (Cadeira n. 2) e voluntária em projeto de fomento à leitura comenta que a literatura e a leitura completam os nossos vazios. “Mais que a possibilidade discursiva, a leitura, a literatura, completam os nossos vazios, são imperativos da alma, exercícios de vida, que ressurgiram vigorosamente, nos tempos de pandemia. A leitura é um convite à glória dialógica que, para mim, pertence ao mesmo recôndito vital da energia afetiva. Não nos esqueçamos que a literatura é uma atividade artística, por tanto, subjetividade à máxima potência, um exercício de alteridade constante que nos permite inclusive uma ligação com o que é impalpável”, completa.
O acesso ou o desacesso?
Mas nem sempre é fácil ou possível esconder o vazio deixado pela falta de leitura. Ainda segundo a pesquisa, 84% da população não compraram livros durante os últimos 12 meses e “para 60% dessas pessoas o hábito de leitura é uma atividade importante, porém a maioria aponta preço, ausência de loja e falta de tempo como os maiores fatores para desmotivar ou não efetuar a compra de livros.” segundo dados da pesquisa. Outro ponto que dificulta a prática da leitura relatada no documento é a falta de livrarias em determinadas regiões, como no norte e nordeste.
Segundo a professora Letícia Ribeiro a leitura afeta diretamente no aprendizado dos mais jovens. “Acredito que a leitura contribui efetivamente para o aprendizado dos alunos, já que o contato com os livros além de ampliar o vocabulário, incentiva a concentração e a imaginação das crianças.” Ela ainda completa que Ponta Grossa poderia incentivar mais a leitura por meio da promoção de eventos sobre leitura, com contação de história ou até mesmo visitas a biblioteca pública para que a população pudesse ter maior contato com os livros.
Segundo Luísa, a Academia de Letras dos Campos Gerais tem um apelo popular muito grande e sempre esteve à disposição da população. “Hoje sou a Diretora da Biblioteca Paranista Eno Theodoro Wanke, que pertence à Academia. É uma biblioteca com, eminentemente, livros que remetem ao Paraná, portanto, uma coleção única em nossa região. Nosso acervo inclui obras raras e dos mais importantes autores paranaenses de todas as épocas. A biblioteca sempre esteve à disposição da comunidade, no entanto, há dois anos, a biblioteca permanece aberta todas as quartas-feiras à tarde”.
A professora aposentada ainda comenta que todas as reuniões são abertas à comunidade, além de a Academia promover o gênero ‘crônicas’ com o projeto “Crônicas dos Campos Gerais, contribuições com as feiras literárias da região, grupos de leituras, comissões julgadoras, concursos literários, lançamentos de livros, promovemos o intercâmbio literário com cidades de toda a região dos Campos Gerais. Além de lançar recentemente uma agenda literária, com o objetivo de orientar a prática de leitura.
De acordo com a última pesquisa realizada pelo IBGE, o Brasil possui uma população de mais de 10 milhões de analfabetos acima de 15 anos, e na visão da educadora Letícia Ribeiro o difícil acesso aos livros é um fator que contribui para que esse índice seja tão alto. “Entendo que o acesso está cada vez mais precário, com escolas tirando as bibliotecas para fazer sala de aula, isso faz com que as crianças e jovens fiquem mais longes do acesso e com isso o interesse pela leitura diminui fazendo com que esses sejam os números do analfabetismo.”
Letícia ainda completa afirmando que os pais dos mais jovens têm um papel importante para o incentivo da leitura. “É na família que tudo começa desde a educação até o simples fato do incentivo a leitura já que existem projetos privados que entregam livros na casa das pessoas que fazem o cadastro e isso é de acesso de todos, então os pais não procuram essas informações e as crianças perdem essas oportunidades, também acho que o fato de as crianças ficarem cada vez mais reféns do celular faz com que elas percam interesse por qualquer outra coisa ou brincadeira, o que é muito triste para um país onde os dados de analfabetismo já são extremamente altos”, finaliza.
A pesquisa da Nielsen BookData, aponta que 44,9% da população brasileira pratica o hábito de leitura como lazer, e para a professora Luísa Cristina dos Santos Fontes, a leitura tem a capacidade de expandir horizontes. “A leitura amplia o horizonte da pessoa em todas as perspectivas. Ela favorece a reflexão, aconselha as melhores escolhas, é estudo e fruição da alma. Fortalece nas horas necessárias e enleva, releva, revela. Pacifica e revoluciona. A leitura é transformadora”.
Ponta Grossa também possui outros projetos destinados aos livros e à leitura como o Bando da Leitura, Pegaí, Olaria cartonera entre outros.
Você pode gostar:
Autora explora assuntos complexos de forma didática para as crianças
“Um viva para nossas crianças e para a literatura feita por mãos negras!”
Escritora de Carambeí é homenageada na FLIP em Paraty