O bloco mais antigo da cidade, ainda em funcionamento, é o Bloco da XV que começou a se organizar em 2016 e foi para as ruas em 2017. O organizador do Bloco da XV e do Bloco dos Polacos, Gabriel Divardim, conta que, para ele o carnaval antes de tudo é uma festa. “Mas é uma festa em disputa, dentro disso se refletem diferentes projetos de sociedade. Em nosso projeto, queremos ruas e praças lotadas, direito à cidade e ao lazer, diversidade e democracia. A disputa é contra o Brasil do camarote, do exclusivo e da exclusão, onde só importa o lucro”.
O Conselheiro de Cultura, pela cadeira de Carnaval, Everson Pontes estava lá no começo, quando o Bloco dos Polacos desfilou pela primeira vez, e ele conta que em, 2018, os participantes sambaram sem incentivo e sem dinheiro. “Juntamos 20 pessoas, uma caixa de som e desfilamos. Depois, em 2019, fizemos um evento no facebook e o evento bombou!”. Para esse ano, ele espera que ao menos 15 mil pessoas passem pelos blocos da cidade. Everson Pontes espera que ao menos 3 mil pessoas sambem junto com o Bloco dos Polacos.
A história do Bloco da XV e do Bloco dos Polacos se cruzou já há alguns anos. Hoje, os dois Blocos são irmãos e desfilam ao mesmo tempo. Para este ano, ainda não se sabe se eles vão desfilar juntos.
Em 2017, um dos primeiros posts nas redes sociais do Bloco da XV contém um trecho do Manifesto Antropofágico de 1928 de Oswald de Andrade. “Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos. De todos os tratados de paz.”
Para Cíntia Foloni Santoro, que também colabora com o Bloco da XV e com o Bloco dos Polacos, o Carnaval deve ser pensado como uma das manifestações populares mais significativas para a valorização da cultura local porque ele fortalece a participação popular. “Para a gestão pública, apoiar o Carnaval reforça sua imagem como promotora do bem-estar e do lazer, ao mesmo tempo em que o evento se torna um espaço para a liberdade de expressão e manifestações políticas e culturais.”, ela finaliza dizendo que o carnaval vai além do entretenimento.
Os blocos em Ponta Grossa já são sagrados desde 2017. Como bem explica Rômulo Santos, organizador do bloco da Chave de Mandril, o movimento dos blocos é orgânico. A ideia de fazer o bloco surgiu em 2017, e desde então, eles estão nas ruas, com o povo produzindo arte e entretenimento para si mesmos, guiados pela Princesa Elétrica. A banda Chave de Mandril tem 10 anos de história, e mesmo assim, Rômulo conta que tocar em um trio elétrico pelas ruas de Ponta Grossa foi um dos pontos únicos da sua carreira como músico.
Embalados pelo Axé baiano, Maracatus de Recife, o samba de côco, as cirandas e o Boi bumbá do Amazonas, os foliões que acompanharam o Bloco da Chave no ano passado puderam curtir a folia mais brasileira possível.
O Carnaval, antes dos dias fatídicos, necessita de muito ensaio por parte das Escolas e dos blocos, é por isso que, neste ano, a Chave vai, no dia 22 de fevereiro, às 19hrs, pra praça com o Bloco da Chave 2025. No evento, vão escolher a Rainha, Rei Momo e a melhor fantasia do Carnaval. O Grupo Umbatuque e o Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais também estará presente.
O Conselheiro de Cultura pela cadeira de Carnaval, comenta que, do ponto de vista político, o carnaval proporciona visibilidade para aqueles que normalmente não tem. “Veja os blocos, reúnem as religiões de matriz africana, os LGBT’s, as mulheres… Enfrentamos nesses dias de Carnaval toda a parte conservadora da cidade”.
Everson comenta que, desde 2020, a organização do Carnaval vem tentando desconstruir a imagem de que o Carnaval é apenas uma bagunça. Esse tipo de fala preconceituosa geralmente é proferida por aqueles que imaginam que o dinheiro do carnaval pode ser utilizado em outras áreas pela prefeitura. “Mas veja bem, as verbas destinadas à Cultura não podem ser realocadas em outros locais”. Economicamente, Everson conta que, no ano passado 1.500 corridas de Uber foram feitas da Praça dos Polacos, ao final do Carnaval, segundo dados que a organização do Carnaval obteve com a plataforma. “A gente movimenta a economia, movimenta o trânsito, o comércio. Todo o valor investido fica aqui. Sobre a economia do Carnaval, você pode conferir o primeiro texto desta série, que abordou quanto custa para realizar um desfile de escola de samba.
Calouros no Carnaval
Um bloco que surgiu ano passado, e desfila neste ano pela primeira vez, é o Carnafolk. A associação com a realeza não é por acaso. O Grupo, organizado por Henrique Gabriel Gutierre, se caracteriza pela temática relacionada à idade média e ao renascimento, época em que o carnaval surgiu.
“O bloco do Carnafolk representa para mim uma forma diferente de comemorar o carnaval, com uma proposta inovadora e mostrando como era o carnaval em sua origem”, declara Henrique. O grupo, que surgiu em 2024, está esperando mais de 100 pessoas acompanhando o bloco na avenida que terá como estilo os famosos bailes de máscaras de antigamente.
Em 2024, surgiu um bloco que deu o que falar na avenida. O Bloco do Zé Pelintra é vinculado ao terreiro de Umbanda Esperança Sagrada. O bloco é uma homenagem ao seu Zé Pelintra que fez a solicitação e foi atendido. O resultado foi um desfile pela avenida que reuniu mais de 80 pessoas e que na concentração chegou a 500. Pai Bruno conta que os organizadores do bloco estavam receosos.
“Ficamos com medo de retaliações, principalmente numa cidade tão conservadora quanto Ponta Grossa pela origem do bloco remeter a sua religião de matriz africana, mas muita gente foi com a gente, descendo a avenida e cantando. Vimos muitas pessoas descontraídas, assistindo com suas famílias.” ele observa que a vitória do bloco foi também uma vitória para todas as religiões de matriz africana na cidade.
O Bloco do Zé Pelintra ganhou em primeiro lugar o concurso do Corso de 2024 e também ganhou uma menção honrosa na Câmara de Vereadores da cidade de Ponta Grossa.
Para este ano, a organizadora do bloco, Larissa Lopes, está esperando mais de 80 pessoas descendo a avenida junto com o bloco, isso porque a venda das camisetas do bloco superou as vendas do ano passado.
Para os próximos anos, Pai Bruno quer conversar com os outros terreiros da cidade para que eles agreguem também ao bloco, unindo todos na folia.
Outro bloco que resiste em tempos conservadores é o Bloco Arco-Íris, que foi, segundo seu organizador, Victor Vosniak, idealizado para ser um espaço de respeito, alegria e representatividade. O bloco, cujo tema deste ano é “Somos resistência, alegria e dignidade: o Bloco Arco-Íris é luta e celebração de vidas reais”, fará um pré-bloco em uma casa de show aqui da cidade, no dia 01 de março.


O papel do Conselho Municipal de Cultura
Até 2023, o Conselho Municipal de Cultura não tinha uma cadeira específica para o Carnaval. Ele era um dos objetos da Cadeira de Economia Criativa. Na Pré-Conferência Municipal de Cultura, o grupo do Carnaval se organizou e levou a ideia que foi discutida e votada na Conferência Municipal de Cultura. “Nós nem sabíamos que tínhamos acesso a verba da cultura da cidade. Foi a partir da minha entrada como Conselheiro que pudemos ter acesso a essas fontes oficiais de verba” explica Everson.
Neste ano, a Secretaria de Cultura, atualmente a principal mantenedora do Carnaval de Ponta Grossa, preparou um edital para a participação dos Blocos da cidade. O edital, lançado no dia 11 de fevereiro, com publicação em Diário Oficial no dia 12 de fevereiro, premiará 10 blocos. As inscrições podem ser feitas para a categoria A que premia R$ 5.000,00 e para a categoria B que premiará R$ 2.500,00. No total, esse edital tem disponível R$ 37.500,00. As despesas foram debitadas do valor já destinado pela Prefeitura ao Carnaval de 2025. O Conselheiro de Cultura estima que, em média, mais de 30 mil pessoas estarão nas ruas acompanhando os desfiles e os blocos.
Vai pular carnaval com os blocos?
Você pode acompanhar o cronograma do carnaval nas redes sociais de cada bloco ou da Secretaria Municipal de Cultura:
Você pode gostar:
As primeiras festanças de Carnaval nos Campos Gerais
Instituto Cidade Viva promove grito de carnaval pela paz
Quanto custa o Carnaval?