O que você pensa quando falam em economia criativa? Ela engloba o comércio de bens culturais, mas vai muito além disso. Pode incluir o artesanato, museus, design de produtos, arquitetura, consultorias criativas, esculturas, músicas, artes cênicas, videogames, eventos, etc. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, em junho de 2025, haviam 1.898 postos de emprego formais para produtores culturais. A maior parte das vagas segue sendo do Sudeste, segundo dados de 2022. O sul do Brasil, embora seja a penúltima região com vagas formais, é a que paga os maiores salários, segundo dados de 2022. Há uma lacuna no que se refere a dados específicos e atualizados sobre o setor criativo no Brasil, assim como no Paraná.
No mundo, a economia criativa é um dos setores que mais crescem, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). As receitas geradas no planeta giram em torno de 2,25 bilhões de dólares ao ano e a economia criativa mantém hoje 30 milhões de empregos no mundo. Estes dados foram apresentados no Seminário de Políticas para Economia Criativa que aconteceu no Rio de Janeiro em 2024.
Em 2020, a Economia criativa movimentou 3,11% do PIB do Brasil, segundo dados do Observatório Itaú Cultural. Só o Sul do Brasil, representa uma movimentação de 20,48% do PIB.
Ecossistemas criativos no Paraná
Quando um criativo se junta com outros criativos, costumam formar um coletivo, ou um ecossistema. Este ecossistema, formado por uma rede de pessoas, se organiza para impulsionar seus produtos. Estes grupos só existem porque têm redes de apoio, prestando assistência ou fornecendo incentivo financeiro, para subsidiar a existência do grupo. O incentivo financeiro pode ser governamental, privado, com a venda de ingressos de eventos ou a venda de produtos.
Em 2025, em Ponta Grossa, aconteceu o evento Geektopia, que é hoje um dos principais eventos da cultura nerd nos Campos Gerais. O evento promove a valorização da cultura pop, busca estimular a produção artística local e da região e proporciona um ambiente com possibilidade de rentabilidade para os empreendedores criativos que participam de feiras, festivais e similares.
Nos dois dias de evento, mais de 1.000 pessoas passaram pela sede social do Clube Verde em Ponta Grossa. O evento contou com expositores e visitantes de Londrina, Campo Mourão, Guarapuava, Curitiba, Carambeí, Castro e até do estado de Santa Catarina, segundo Lucas Falcão, membro da diretoria do Conselho de Cultura Pop que promove o Geektopia todos os anos. “Um adendo é que, neste ano, muitas pessoas de fora do nicho geek e nerd compareceram ao evento para prestigiar e houve muitas avaliações positivas em nossa pesquisa de satisfação.” ressalta.
Em Cascavel, a produtora cultural Evelyn Anevão, percebendo a dificuldade de articulação dos produtores culturais da sua região, lançou o projeto Capivara Move, que hoje é um Ponto de Cultura certificado pelo Ministério da Cultura. O projeto busca parcerias com criativos e financiamentos através de editais públicos para se manter funcionando. “A cultura nunca vai andar sozinha, é preciso a união dos coletivos e a divulgação para que o resto da comunidade conheça. Sozinho é muito difícil esta caminhada, principalmente em cidades menores “, observa.
Como conseguir recursos para a economia criativa no Paraná?
Como explica Evelyn Anevão, é possível conseguir recursos para que coletivos funcionem através da venda de produtos dos artesãos e produtores, mensalidades, venda de cursos, venda de bens e serviços criativos e editais de patrocínio municipais, estaduais e federais.
No estado do Paraná, somente em 2024, foram lançados sete editais da Política Nacional Aldir Blanc com verba destinada pelo Governo Federal. O total de recursos destinados a todos os editais foi de R$ 1.499.999,84. Além disto, a Secretaria do Estado da Cultura (Seec) e Governo do Estado lançaram o edital de Mobilidade Cultural, destinando R$ 500.000,00 para artistas, em modo de fluxo contínuo, com o objetivo de difundir a cultura paranaense em outros estados através dos recursos do Fundo Estadual de Cultura (FEC). Outro programa do Estado para o fomento da economia criativa é o Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura do Paraná (PROFICE) que, por meio do mecanismo de renúncia fiscal de ICMS, possibilita a valorização, produção, difusão, circulação, pesquisa e a preservação dos bens culturais, além de ações de caráter educativo para a arte e a cultura no Paraná. Este programa não lança editais desde 2023.
O Paraná também é pioneiro na criação da Agência do Trabalhador da Cultura (ATC) que oferece atendimento e cadastramento para os trabalhadores da cultura. “A Agência promove o encontro entre quem está disponível no mercado de trabalho com quem oferece oportunidades para contratos e projetos específicos, de maneira a impulsionar os diversos setores da economia da cultura no Estado.” Relembra a Secretária Estadual de Cultura do Paraná, Luciana Casagrande Pereira.
“Em cidades menores, onde a empregabilidade do setor de economia criativa é pequena, as políticas públicas de cidades menores exercem grande impacto no setor”, resume a produtora cultural de Cascavel.
Plano Estadual de Cultura
As ações da Secretaria do Estado são guiadas pelo Plano Estadual da Cultura (PEC-PR) que tem duração de 10 anos. Instituído através da Lei nº 19.135 de 28 de setembro de 2017, o Plano tem como objetivo estabelecer uma gestão pública participativa. O primeiro objetivo estabelecido no Plano é universalizar o acesso à arte e à cultura. O plano também prevê programas que permitam o desenvolvimento da economia da cultura nas macrorregiões do Paraná. E para tal, é necessário “mapear, fortalecer e articular as cadeias produtivas que formam a economia da cultura;” relata o documento. O mapeamento e gerenciamento de dados relativos ao setor cultural do estado são do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES.
O IPARDES realiza vários tipos de levantamentos e inclusive apresenta dados sólidos sobre o setor turístico do estado, o que não acontece com a Cultura. Em suas áreas de concentração dos estudos e pesquisas do Instituto, a Cultura também não está incluída.
Como relata o Plano Estadual da Cultura, em seu artigo 10, cabe à Secretaria “monitorar e avaliar periodicamente o alcance das diretrizes e eficácia das metas do PEC-PR com base em indicadores regionais e locais que quantifiquem a oferta e a demanda por bens, serviços e conteúdos, os níveis de trabalho, renda e acesso da cultura, de institucionalização e gestão cultural, de desenvolvimento econômico-cultural e de implantação sustentável de equipamentos culturais.”
Na época de lançamento, a Seec lançou 19 metas a serem alcançadas nos próximos 10 anos e que servem como metas para as elaborações de políticas públicas na área da cultura. Uma das metas do plano é implantar “o Sistema de Informações e Indicadores Culturais do Paraná – SIIC”. Este sistema, quando for implementado, será acessível, integrado com os municípios que também o alimentarão com dados, transformando o sistema em uma ferramenta de avaliação do PEC capaz de produzir diagnósticos para a implementação de políticas públicas.
O Plano atual é válido até 2027. Após este período, é necessário elaborar um novo plano para a próxima década que deve ser aprovado pelo poder legislativo para garantir a sequência das políticas públicas.

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