Fernando Durante, O pai do Sexta às Seis

Proposta selecionada pelo edital 011/23 do Fundo Municipal de Cultura

Este texto está saindo diretamente da terra chuvosa que mais parece um domingo preguiçoso. Para encerrar a série de crônicas, decidi falar sobre Fernando Durante. O papel do produtor cultural, publicitário, diretor de teatro, locutor de rádio, apresentador, comentarista, ator e empresário é inegável não somente ao Sexta às Seis, mas a toda cultura da cidade de Ponta Grossa. 

Eu não usei essa foto no meu TCC em 2021, porque a cinegrafista (eu mesma) estava com um celular pavoroso, tremendo muito, e tinha acabado de tomar uma vacina de Covid-19. Mas na foto, podemos ver Fernando Durante, em 1989, articulando todos os eventos que seriam lançados em 1990. Na época, Fernando integrava o Departamento de Cultura da cidade. Foto: Jessica Allana Grossi/ Acervo Casa da Memória Paraná.

Fernando Durante faleceu vítima de Covid-19 em 2021. Além do Sexta, ele também foi o pai do Festival Nacional da Canção (FUC) junto do Diretório Central dos Estudantes (DCE) na época da sua graduação e da Quarta Cultural já trabalhando para a Prefeitura. Atuou como ator em peças do Festival Nacional de Teatro (FENATA) e também como Diretor, recebendo premiações importantes. Também criou projetos de teatro, como o Festival de Teatro nas Escolas e o Coro da cidade. Se alguém sabia o valor da cultura, era ele. 

Na mesma época em que havia criado o Sexta, Durante organizou a München Fest, promovendo um intercâmbio entre os dois públicos. Naquele tempo, a München era organizada lá no antigo pátio da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) onde hoje é o Campus de Uvaranas da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Em sua primeira edição, a movimentação foi tanta (150.000 pessoas segundo informações do site da Prefeitura de Ponta Grossa) que iniciaram a construção do Centro de Eventos para abrigar essa festa e tantas outras. 

Nomes importantes passaram pela cidade, principalmente através da München Fest. Barão Vermelho, bandas alemãs, Fagner, Alceu Valença, Raça Negra, Milton Nascimento, Paralamas do Sucesso… bom, se eu for contar todos os nomes, precisarei de uma crônica só para isso. 

Amigo de Durante, Daniel Frances, hoje Diretor do Grupo de Teatro Universitário, me contou que antes do Fernando Durante não havia um incentivo sistematizado à cultura na cidade. Não havia estrutura, organização, projetos duradouros como uma forma de política pública, que permanecem mesmo após mandatos políticos que são passageiros. 

Para Frances, o principal aditivo de Fernando Durante foi a diversificação. Tanto de projetos, quanto de estilos musicais. Aliás, o produtor cultural era o detentor da maior coleção de LP ‘s da cidade. 

O processo de transformar a cultura em um trabalho muito sério, se iniciou lá em 1980-1990 quando Fernando Durante assumiu um cargo dentro da Prefeitura e cresceu até seu auge em 2002. Mesmo quando não estava estritamente presente, estava atuando na cultura da cidade. Em 2016, tornou-se presidente da Fundação Municipal de Cultura de Ponta Grossa até o ano de 2020. Auxiliou a implantar o Plano Municipal de Cultura e Programa Municipal de Incentivo Fiscal à Cultura (Promific). Na Fundação, Fernando articulou a abertura de gêneros do Sexta às Seis, em 2017, assim como foi idealizado o projeto no começo. Não me foi confirmado por nenhuma fonte, mas eu acredito que ele tenha sido o principal idealizador dessa abertura. 

Como ele era presidente da Fundação, e na minha graduação eu trabalhava bastante com jornalismo cultural, eu vivia topando com ele por aí. Em vários contextos, inclusive. Fernando Durante era sempre muito comunicativo, alegre e falava sobre qualquer assunto. Aparecia sempre no Sexta às Seis, aleatoriamente. Ninguém sabia que ele havia criado o projeto. Se misturava com a plateia, apreciava o show, conversava e ia embora. Estava sempre sorrindo nos eventos culturais. Mas bastava alguém se apresentar como jornalista que ele ficava sério. Às vezes um pouco áspero. Não por culpa dele, mas sim pelo cargo que desempenhava de grande responsabilidade. Havia um distanciamento entre o produtor cultural, apreciador de música e artista para o Presidente da Fundação e o Diretor de Teatro que era sempre muito visível. 

Eu devo ter esquecido de comentar muitas realizações, projetos, premiações e trabalhos que ele desempenhou em seus 63 anos de idade. Este texto não tem objetivo de capturar a alma e essência de Fernando Durante como se fosse um memorial, até porque já faz 2 anos do seu falecimento. Decidi encerrar com ele porque lembro que eu mesma o vi, em um show do Sexta, lá em 2016. Na época, eu não sabia seu nome, o que ele fazia da vida e o que ele estava fazendo ali. Para mim, parecia apenas um apreciador de música, como tantos que temos na cidade e que acompanham os shows do Sexta. Ai me perguntei, será que as pessoas sabem, aquelas pessoas que vão apenas curtir o show, sem compromisso, que foi o Fernando Durante, lá em 1989, que criou o Sexta?