Com a chuvarada deste mês, não é possível acompanhar os shows. Tupã, o deus do trovão dos tupi-guarani está empolgado nesta primavera. O caso é que, de novo, sem Sexta, fico sem atualidade. Adiaram os principais shows que eu queria ver então, estou esperando que faça sol quando eu for até o Ambiental curtir um som.
Mas enquanto a gente não pode ver o Sexta porque o clima não dá uma trégua, que tal estabelecer um paralelo entre o público dos anos 1990 e o de agora?
Nos anos 1990, Ponta Grossa era o quarto município mais populoso do Estado, com 233.857 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e 219.648 dessas pessoas moravam no perímetro urbano. Nos anos 1990, se ouvia Elton John, Celine Dion, Mariah Carey, Michael Jackson, Madonna, Whitney Houston nas rádios pop. Um novo estilo musical despontava no cenário. Chamado de grunge, que significa sujeira, o estilo lançou bandas como Soundgarden, Pearl Jam, Alice In Chains e Nirvana.
Mas também se ouvia rock nas rádios da época. A população de Ponta Grossa provavelmente teve contato com bandas como R.E.M, Oasis, Red Hot Chili Peppers e Foo Fighters.
No cenário local, o que fazia sucesso era o samba, duplas sertanejas, Engenheiros do Hawaii, Marisa Monte, Fábio Jr, Cássia Eller, Barão Vermelho, Blitz, Ira e Skank (alguns dizem que o Skank é nosso Oásis Br).
Quando o Sexta foi lançado, o projeto funcionava no Coreto da Praça Barão do Rio Branco. O terminal de ônibus da cidade ficava localizado na mesma praça que continha 12.998 metros quadrados, e na época era a maior praça da cidade, já que não havia aquela rua dividindo o local.
O império musical se formava com as gravadoras e terminava nas rádios. Em 1980 e 1990, tudo o que se ouvia, passava primeiro por ouvidos atentos da divulgação das rádios. O público, que sempre gostou muito de ouvir música, ouvia e gravava suas fitas, comprava discos no sebo e se encantava com o surgimento dos CDs que se tornaram mais populares nos anos 1990.
Hoje, temos pequenos celulares que são capazes de armazenar um banco de músicas quase infinito. Mas isso não impediu que as pessoas continuassem comprando vinil e CDs, longe disso, tornou o processo de arquivar e ter uma coleção de música em sua casa um hobby.
A praça que funcionava o Sexta na época era o ponto central de encontro de jovens e da população. Todo mundo que queria ir em algum lugar, precisava passar por lá. Os shows do projeto sempre lotavam e o pessoal gostava de ir, muitas vezes, caracterizado ou arrumado para um evento grandioso. No entorno, existiam muitas escolas e os estudantes compareciam em peso, demarcando logo no início uma cara jovem ao projeto. Tão jovem, que às vezes é de se estranhar quando se vê alguém mais velho curtindo “a música da nova geração” até hoje nos shows do projeto.
No acervo da Casa da Memória Paraná é possível ver várias fotos entre 1989 a 1992, dos shows da época. Haviam espetáculos de dança, bandas diferentes, bandas da cidade e bandas de fora. É possível ver o público também. Misto, composto de adultos, crianças e idosos. Todos acompanhavam, ou ficavam para acompanhar já que o local era de passagem.
Já nos anos 2000, havia 52.526 jovens entre 15 a 24 anos na cidade, segundo o IBGE. Naquela época, a porção mais numerosa de habitantes da cidade tinha entre 15 a 19 anos. O campus central da Universidade Estadual de Ponta Grossa abrigava todos os cursos disponíveis na cidade e as escolas continuavam no entorno, com um adicional de cursinhos preparatórios para o vestibular, adicionando uma população jovem de fora da cidade. O Ponto Azul, como era conhecida a Praça do Barão do Rio Branco, era também, um ponto de encontro importante para a época. Em 2005, depois do hiato de 10 anos, o projeto retornou, mas já não funcionava mais o Terminal Central naquela região. Mesmo assim, os jovens ainda estavam lá. Agora o projeto, focado nas bandas da cidade, atrai mais os jovens, interessados na música do município. Os shows de fora pararam de acontecer e o palco não lotava tanto, mas tinha seu público fiel toda sexta-feira.
O que tocava no rádio era o pop de sempre, com destaque ao grupo RBD, de música mexicana, Britney Spears, Amy Winehouse, Madonna, entre outras. No rock, surgia a Avril Lavigne que junto com o Green Day (que nos anos 90 era de um caráter mais punk) e Paramore, deram início ao pop-punk. Já o rock da época tinha como exemplo a Red Hot Chili Peppers, que inclusive se tornou uma banda ainda mais famosa nessa época, como se fosse possível. Mas o que estava tocando no Sexta era o rock, não tenho dúvidas disso pois tive acesso a um levantamento de 2008 com todas as bandas que tocaram naquele ano.
Em 2008, tocaram a Sociedade Tribal, uma banda de maracatu. Fire Hunter, a banda de heavy metal super conhecida na cidade. A banda Trashall, também de heavy metal e a banda “Blues na Estrada”. O relato, o qual tive acesso, diz que “este ano, que comparado aos outros teve poucos Sextas às Seis.” De fato, quatro bandas parece um número muito baixo. Mesmo assim, a minha informante da época, me disse que os jovens continuavam indo até a praça se reunir, falar sobre música e aproveitar o final de tarde.
A partir de 2010, o emocore começa a tomar espaço e como é um assunto sensível, não só pra mim, mas também como para Ponta Grossa (afinal ela nunca teve uma banda de emocore autoral neste período), vou me abster de comparações. No início acompanhavam pessoas variadas, depois, acompanharam os jovens e foi assim até 2018. Desde este ano, percebe-se uma volta das famílias em ocupar o Sexta. Se você retornar, e ler os outros textos, perceberá que, e já dando um spoiler do último texto da série de crônicas, há uma chave extremamente importante para o projeto e para o público.
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