Foto: Banco de Imagens gratuitas/Canva.

A opinião está em todo lugar: A charge como forma de expressão

As charges e caricaturas possuem sua história atrelada a evolução da imprensa no Brasil

Quando estamos lendo o jornal ou scrollando as redes sociais e nos deparamos com um desenho, normalmente com uma crítica política ou social, rimos e compartilhamos, mas sem saber da onde surgiu aquela inspiração. Mais que uma forma de arte ou expressão, a Charge, tal qual caricatura, cartum e grafite são Patrimônios Brasileiros, de acordo com a lei 14.996, de 2024, sancionada pelo atual presidente do país. 

Na Ditadura, as charges foram um grande meio de expressão muito utilizado no período através de grandes nomes como Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar, Henfil, Laerte entre outros. 

No jornalismo, a charge é aquele desenho que você encontra nos jornais sendo classificado como um jornalismo de ‘opinião’. Hoje, elas povoam também as redes sociais. 

Conheça o histórico da Charge 

A primeira aparição histórica do que se pode considerar uma charge, foi datada em 1837, chamada a ‘Campainha e o Cujo’, criada por Manuel de Araújo Porto-Alegre e publicada no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro.

Mas a primeira aparição de uma imagem com o intuito de produzir humor gráfico data de 1831, chamado ‘O carcundão’ (forma que os brasileiros da época se referiam aos portugueses que eram simpáticos ao absolutismo).  

O surgimento da Revista Ilustrada em 1876, fundada por Angelo Agostini, marca um novo período do humor gráfico no Brasil. Angelo retratava em seus desenhos a realidade daquela época, que ainda passava pelo seu período monárquico, como o cotidiano, costumes e a política. Vale ressaltar que nessa época não era todo mundo que sabia ler. Angelo Agostini era caricaturista, pintor, crítico, ilustrador, nascido na Itália, chegando ao Brasil em 1866. Esse nome ganhou destaque na segunda metade do século XIX.

Mulheres Chargistas 

Outro nome de grande importância e que tira o homem do posto de destaque, é Rian, ou melhor Nair de Teffé, considerada a primeira mulher caricaturista do Brasil. Nair assinava seus desenhos como Rian que nada mais é que seu nome de trás para frente. Nasceu em 1886 no Rio de Janeiro a filha de Barão de Teffé, Nair de Teffé. Nair teve contato com diversas formas de expressão artística, pois foi estudar na França. Em 1906, Nair volta ao Brasil e passa a realizar caricaturas da alta sociedade brasileira, assim assinando como Rian. Ela buscava retratar a realidade em que ela estava inserida, a burguesia. Os homens eram retratados com menos movimentos e as mulheres eram cheias de movimento no traço. A sua primeira caricatura foi publicada na revista Fon-Fon, em 1909. Mesmo casando com Hermes da Fonseca, Nair nunca deixou de expressar suas opiniões por meio das caricaturas.

A Charge como enfrentamento no período da Ditadura 

A ditadura no Brasil também traz consigo um grande marco para a história da charge no país. Em meio a diversas censuras que os veículos de comunicação sofreram nesse período, as charges ganham força para criticar por meios satíricos a ditadura. O Pasquim foi um dos periódicos que utilizava o humor gráfico para contestar a ditadura militar, que estava sob o regime do AI-5 quando foi criado. O Pasquim foi criado em 1968, mas já em 1970 a equipe de chargistas havia sido presa pela ditadura. A censura acontecia com todos que contestavam o regime. 

O período da ditadura, traz consigo a força de comunicação para que por meio do humor, da sátira e da reflexão pudessem, mais enfaticamente criticar e questionar o regime.  

Hoje os chargistas e cartunistas possuem outro espaço para a publicação de suas opiniões, as redes sociais. As redes tornaram muito mais rápida essa disseminação de informações, e consequentemente as opiniões chegam muito mais depressa aos receptores. 

Um fato que aconteceu em 2020, período em que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava no poder, causou um grande movimento entre os artistas nas redes sociais.

O cartunista Renato Aroeira publicou sua charge. Nela continha a cruz vermelha da saúde e em preto estava pintado as pontas, transformando em uma suástica, e quem estava com o pincel na mão era uma caricatura do então presidente. Assim Renato passou a ser investigado.

Após essa tentativa de censura, diversos outros cartunistas replicaram em seus traços a charge de Aroeira, criando o movimento ‘charge continuada’. O processo foi arquivado em 2021.