Pista de Skate de Ponta Grossa, Paraná

Foto: Jessica Allana Grossi

A fadinha e o skate feminino

O skate feminino cria asas e começa a ganhar força no cenário esportivo

Jhulia Rayssa Mendes Leal, ou somente Rayssa Leal é a queridinha do skate nacional. Claro, a garota é fera no que faz. Ganhou visibilidade na internet aos sete anos de idade e passou a ser conhecida como a fadinha do skate, pelo fato de estar vestida como fada em um vídeo em que fazia manobras e que acabou viralizando na internet. Rayssa já conquistou medalha olímpica na modalidade, mostrando a sua força, garra e determinação. Mesmo muito nova, a skatista nunca desistiu do seu sonho.

De Imperatriz, no Maranhão, para o mundo, Rayssa sempre foi destaque na modalidade. Aos 11 anos de idade, a menina se tornou a mais jovem skatista a vencer a final do Mundial de Skate Street feminina. Em 2020 conquistou uma medalha nas olimpíadas de Tóquio, e desde então nunca mais parou.

Rayssa Leal nasceu em 4 de janeiro de 2008, hoje tendo apenas 16 anos de idade. Desde muito nova gostava de skate e começou a treinar aos 6 anos de idade. Esse esporte por muito tempo, e ainda hoje em dia, foi muito estereotipado, sendo um esporte masculino, onde as mulheres sequer tinham espaço. As coisas mudaram e hoje o skate entrou para as modalidades olímpicas. Na sua primeira olimpíada, Rayssa já conquistou a medalha de prata ficando atrás somente da atleta, Yumeka Oda que conquistou o ouro nas olimpíadas de Tóquio.

Rayssa Leal já possui uma lista de premiações em seu currículo entre as conquistas ela já ganhou a medalha de prata nas olimpíadas de Tóquio, foi campeã na etapa de Los Angeles da Street League Skateboarding (SLS) em 2019, foi prata no mundial de Skate Street também em 2019, campeã brasileira na modalidade street em 2019, foi bronze no skate street em Roma, foi ouro no mundial de Skate Street do Rio de Janeiro em 2022, entre muitas outras conquistas. Rayssa Leal não é só uma jovem maranhense skatista, ela também é a inspiração para muitas pessoas que também amam esse esporte.

Skate em PG: Como está o cenário?

Erica Fernanda, skatista e jornalista de Ponta Grossa, também faz parte do cenário, não como competidor, mas como apreciador. Como ele mesmo fala ”Skate é um estilo de vida” e de tanto amar esse estilo acabou transformando esse amor em Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

“Já que sou skatista, porque não falar de skate da cidade? As trocas de ideias com a galera foi muito massa, a gente dava risada, ficava puto com o prefeito que demoliu a banks, ficava puto com as panelinhas. E acho que foi uma produção importante porque está tratando da nossa história, e que infelizmente foi muito difícil encontrar quem foram as mulheres e LGBTQIA+ que fizeram parte da construção dessa história? Até porque quando perguntei para os caras, eles falavam que só tinham as “gatinhas” na pista, que até iam de skate, mas não andavam”, comenta. Ele ainda expõe que os homens andam e não deixam os demais também participar, como crianças e mulheres, dificultando essas pessoas entrarem na cena do skate.

Erica como está inserido nesse meio acaba vendo muita coisa, entre essas coisas o preconceito escancarado de alguns. “Eu já presenciei pessoas na pista comentando “ce viu que fulano virou mulher?”, e essa pessoa é da cena do skate. Conheço também uma mina que se afastou do skate, nas pistas, por conta desses desrespeitos. E até hoje comentam sobre ela, e até hoje a chamam pelo nome morto”.

Ainda de acordo com Erica, o skate ainda é predominantemente masculino cis, e muitos dos homens do meio são homofóbicos e machistas.” Se você ver o instagram da Luiza Marchiori, você vai entender o que estou falando através dos comentários. O skate é sobre união e respeito, mas na verdade tem uns que são bem seletivos. Em alguns casos, há a transfobia explícita mesmo, em outros, ela ocorre por meio de perguntas desnecessárias e que não dizem respeito a ninguém, apenas à Luiza”, finaliza.

A mulherada (re)existir no skate não é uma tarefa fácil, na própria visão de Erica ainda temos muito que evoluir, e essa evolução não inclui somente o indivíduo, mas sim todo um sistema que integra o skate. “Até pouco tempo, e ainda acontece em alguns lugares, os campeonatos botavam a categoria feminina depois de toda a bateria do masculino. E o que acontecia? A galera assistia o masculino e na hora do feminino esvaziava. Hoje em dia algumas organizações estão fazendo o contrário, para que o público fique para prestigiar as minas também.”

Erica ainda comenta sobre o espaço nos patrocínios, que muitas das vezes não são iguais. “Tem mais a questão de patrocínio. Se você acompanhar as minas, tanto profissionais quanto amadoras, rola as vezes reclamação de que uma marca patrocina elas, mas que recebem menos produtos que os homens, menos viagens, menos vídeo partes, menos propaganda para estampa da marca. Pegam como se fosse só pra dizer que tem mina no time deles, saca?”.

A luta por espaço é constante. Skate é pra quem quiser, Rayssa Leal, Erica Fernanda, Luiza Marchiori, são a prova disso.